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Resenha | Misto Quente - Charles Bukowski

Editora: L&PM
Páginas: 316
Estrelas: ✬✬✬
Skoob
Publicado originalmente em 1982 com o título de Ham on Rye


O que pode ser pior do que crescer nos Estados Unidos da recessão pós-1929? Ser pobre, de origem alemã, ter muitas espinhas, um pai autoritário beirando a psicopatia, uma mãe passiva e ignorante, nenhuma namorada e, pela frente, apenas a perspectiva de servir de mão-de-obra barata em um mundo cada vez menos propício às pessoas sensíveis e problemáticas. Esta é a história de Henry Chinaski, o protagonista deste romance que é sem dúvida uma das obras mais comoventes e mais lidas de Charles Bukowski (1920-1994).Verdadeiro romance de formação com toques autobiográficos, Misto-quente (publicado originalmente em 1982) cativa o leitor pela sinceridade e aparente simplicidade com que a história é contada. Estão presentes a ânsia pela dignidade, a busca vã pela verdade e pela liberdade, trabalhadas de tal forma que fazem deste livro um dos melhores romances norte-americanos da segunda metade do século 20. Apesar de ser o quarto romance dos seis que o autor escreveu e de ter sido lançado quando ele já contava mais de sessenta anos, Misto-quente ilumina toda a obra de Bukowski. Pode-se dizer: quem não leu Misto-quente, não leu Bukowski.


Esse livro chegou nas minhas mãos através de uma troca de recomendações que eu fiz com um amigo. Eu recomendei que ele lesse Elogio da Loucura, do Erasmo de Rotterdam e ele, me desafiou a ler Bukowski. Aliás, recomendo Elogio da Loucura pra todo mundo, logo vou reler e resenhar, mas já adianto: é ótimo, leiam! ♥

Basicamente, eu gostei do livro, mas esse é o tipo de literatura que te faz criar rugas. Traz violência explícita em todas as suas possíveis formas de manifestação. Também, aprendi o significado da palavra escatológico lendo essa história - relativo a excrementos. Foi uma experiência bem nojenta e trouxe várias emoções - por isso das rugas.

Acompanhamos Henry Jr. desde sua primeira memória até sua idade adulta. Os outros personagens da história - na minha opinião - parecem ser descritos sempre de uma maneira inferior ao protagonista, como seu pai violento e cretino, a mãe extremamente submissa ou David, seu colega de escola que apanha dos bullys do colégio.

" - Ele só fica olhando. É tão quietinho.
- É assim que queremos que ele seja.
- As águas paradas são as que têm maior profundidade."

Quando falo de violência, quero dizer violência mesmo, que permeia todo o livro. Violência física aos montes, de pai pra filho, entre crianças no colégio, do diretor da escola contra os alunos, assim como violência psicológica. E o pior, é violência sem justificativa e contada numa passividade incompreensível. É aceita.

Acompanhamos a vida do Henry desde a convivência familiar, como suas amizades na escola, seu primeiro emprego, primeiro porre e primeira vez. A história perpassa pelo crack da bolsa e as suas consequências de forma sutil, ela só acrescenta ao contexto da história não se tornando a faceta mais importante do conto. Ele passou a me irritar ao longo do livro. A pessoa que ele se torna. Um revoltadinho sem causa. 

"Eu bebia de minhas próprias palavras como se fosse um homem sedento. Comecei, inclusive, a acreditar que elas representassem a verdade."

É um livro bom, porém não recomendaria para todas as pessoas. Precisa de um estômago um tanto quanto forte para encarar o tipo de escrita do livro. E estar no humor de ler uma história triste.  Mas sem dúvida, dá para entender a fama do autor.

E você? Já leu? Deixe sua opinião nos comentários!
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Comentários

  1. Grande resenha Rafa! Só li um livro do Bukowski, Factotum. pelo que li em outras resenhas, este é mesmo o estilo dele: áspero com tons de humor e pouco pudor. Como você disse, e concordo totalmente, não são livros pra todas as pessoas. São bons, ainda mais por mostrar o lado do "limbo do ser humano", pra quem tem estomago e não se envergonha quando se trata de sexo. Pretendo ler outras obras dele em breve.

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    Respostas
    1. Eu também quero ler mais, mas não com frequência, pois senão era capaz de perder a fé na humanidade HAHA

      Beijos!

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